Leonardo Santos
Professor de História
Esporte Clube São José
O
historiador Sérgio Mello informa que o Esporte Clube São José foi
fundado numa sexta-feira, do dia
28 de Janeiro de 1938, na localidade de Goitacazes e, após atuar
na Divisão de Amadores da Liga Campista de Desportos até 1944, passaria no ano
seguinte à Liga Profissional, onde viria a se tornar campeão campista em 1952.[1]
Como ocorreria em outros clubes da região, o apoio do
dono da usina (ou ao menos um dos) foi fundamental para que a agremiação
pudesse ter sido criada. No caso do São José, ele contou com “a ajuda” do Sr.
Gonçalo Vasconcelos, que era um dos sócios da usina. Sérgio Mello destaca que a
“área para o estádio, que chegou a ser chamado de Estádio da Vitória (já que
foi inaugurado no dia 8 de maio de 1945, exatamente no dia da vitória dos
Aliados na frente européia da II Guerra Mundial), foi cedida pela direção” da mesma.
Nesse mesmo terreno o clube ergueria mais tarde a sua sede social. O
estabelecimento de estrutura tão formidável renderia ao clube a alcunha
“Milionário”. Também era chamado pelo sugestivo nome de “Colosso”.
O São José ainda teria disposição e recursos para alçar vôos para além do futebol, chegando a desenvolver o basquete e o vôlei, mas acabou mesmo, segundo Sérgio,tendo maior sucesso no esporte da "bola jogada com os pés".
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Amaro |
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Altivino |
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Evaldo |
Alguns dos maiores jogadores do clube foram Tom-Mix,
Bóia, Chico, Odílio, Aires, Aílton, Índio, Santana e César.
A sua maior conquista foi, sem dúvida, o Campeonato
Campista de 1952, o primeiro certame profissional da cidade. A esse respeito,
Sérgio Mello escreve:
Moradores mais antigos do lugar até hoje recordam, com
saudade, jogadores como Valtinho, Soares, Basílio, Cambaíba, Orlando, Custódio,
Altivino, Eraldo, Amaro, Hugo Ilmo, Heraldo, campeões profissionais daquele
ano, assim como outros jogadores saídos de suas fileiras para jogarem mais
tarde em outros clubes da cidade.
A
partir de levantamento efetuado pelo historiador Paulo Ourives essas foram as
partidas realizadas pelo campeão:
São
José 5x0 Municipal
São
José 4x3 Goytacaz
São
José 4x3 Americano
São
José 4x1 Campos
São
José 5x2 Rio Branco
São
José 3x1 Municipal
São
José 2x2 Goytacaz
São
José 1x3 Americano
São
José 1x2 Campos
São
José 4x2 Rio Branco
Foram
8 vitórias e 2 derrotas. Ainda segundo Paulo Ourives, podemos ver que o time
titular do campeão do São José foi formado por Custódio e Altivino; Ilmo, Bento
e Heraldo; Soares, Orlando, Amaro, Hugo e Basílio.[2]
Sérgio Mello reproduziu o texto de
um artigo completo saído na revista Madrigal em março de 1970 sobre a história
do São José, retratando seus anos iniciais e a grande conquista de 1952. Embora
extensa, vale a pena a reprodução desse texto:
O Esporte Clube São José, para os que não sabem, teve uma passagem
fulgurante pelo futebol campista em sua Divisão principal e é detentor de um
título invejável, incapaz de ser igualado por outra agremiação em Campos:
primeiro campeão de profissionais. Isto ocorreu no ano de 1952, ou seja, 40
anos após a fundação do Internacional FC (e também do Goytacaz, Campos e Rio Branco), o primeiro clube a ser criado no município,
constituído em sua maioria de elementos locais, incentivados por uns ingleses
que àquela época vieram para a fábrica de tecidos da Lapa. Exatamente 40 anos
depois de sua implantação, o futebol campista deixava de ser amador (amadorismo
marrom) para tornar-se profissional.
Foi o início de uma
nova era, de um novo estado de coisas, acompanhando a evolução e o que já era
fato consumado em outros centros mais adiantados, notadamente São Paulo e Rio,
a adoção do profissionalismo. Esperava-se que com o novo sistema, viesse à
solução para diversos problemas que afligiam a todos. O principal deles era o
êxodo que se verificou da metade até o final da década de 40, quando mais de
uma equipe de atletas campistas se espalhavam pelos clubes cariocas: Valdir
Negrinhão, Hélvio, Pinheiro, Didi, Mílton Barreto, Moacir, Ananias, Alcino, Lamparina,
Manoelzinho, Maneco, Heitor, Tite, Chico Leão, Cinco, Paulinho, Arturzinho, e
outros ainda juvenis que para lá seguiram atraídos pelo fascínio do poderoso
futebol carioca. E o mais lamentável, é que os melhores jogadores se
transferiram e os clubes de origem não recebiam mais do que dois contos de
réis.
Essas considerações
se justificam, já que estamos abordando o fim do amadorismo marrom e o início
do profissionalismo, quando o São José obteve a sua
consagração e o seu mais expressivo título.
[...] Com a
colaboração de bravos companheiros, como o saudoso Jacy Sampaio (tesoureiro),
Ari Bráulio Machado (vice-presidente), Hélio Gomes Monteiro, Luís Gonzaga de
Sousa e outros, Itamar conseguiu elementos de valor do futebol campista (Nélio,
Cláudio, Adão, Hugo, Heraldo, Ovilson) e mais tarde Orlando e Custódio, vindos
de Cambuci, que com os de casa formaram a grande equipe, igual ou superior às
melhores existentes em Campos e em todo o Norte do Estado.
Algumas
dificuldades foram contornadas, mas somente em 48 o São José pôde elevar-se à
categoria principal da Liga Campista de Desportos, graças também a um excelente
trabalho da imprensa que deu todo apoio à pretensão dos dirigentes do São José.
Aloísio Bastos, da Folha do Povo, e Everaldo Lima, do Monitor Campista, foram
os que apoiaram incondicionalmente o clube de Goytacazes.
Em 1949 o São José conseguiu um honroso segundo lugar, e só não foi
campeão por descuido. Tinha, na fase decisiva do certame, tudo para laurear-se,
mas praticamente perdeu o título numa partida lamentável contra o Rio Branco.
Em 1950-51 houve
certo desânimo em face da perda do título em 49, quando teve tudo para vencer.
E o grande ano mesmo, quando o conjunto se apurou e adquiriu maturidade, foi o
de 1952. A equipe estava no auge de sua forma física e técnica. Houve um
trabalho sério, criterioso, de Cid Pinto de Andrade (diretor de futebol) e João
Francisco Dumas (ex-craque do Americano) na época treinador, sob a presidência
do saudoso Norberto Siqueira Barreto, e o Colosso levantou brilhantemente o I Campeonato Campista de Profissionais.
A decisão, foi
também (como em 49) contra o Rio Branco, e ainda na
Avenida 7 de Setembro. Ao fim de partida memorável, teve início a longa e
gloriosa viagem de volta, em passeata festiva. Houve festa em São Gonçalo, e a
nossa Lyra São José, diante do portão principal do Estádio, em meio à multidão,
veio homenagear os vitoriosos. O povo, em delírio, cantava e dançava nas ruas.
Alegria incomum,
quase indescritível, e cenas comoventes como talvez jamais Goytacazes tivesse
presenciado. Os festejos perduraram até o carnaval, quando um grande préstito,
com torcedores, dirigentes, atletas e até mesmo um carro de bois, foram à
cidade, aplaudidos ao longo do caminho não obstante a chuva daquele domingo de
carnaval, e desfilaram pelas ruas centrais.
O carro de bois,
sob o comando do capitão Delfino, desceu pela Avenida 7 e Bulevard, e por pouco
não causou alguns estragos. Era um fato inédito no centro da cidade. Valtinho,
Custódio, Altivino, Ilmo, Hugo, Tom-Mix, Eraldo, Soares, Orlando, Amaro,
Heraldo e Basílio, e ainda Evaldo, Cambaíba, Crioulo e outros, participaram da
gloriosa jornada.
Chico Bento e
Cidoreco, formavam com Basílio o trio de Tocos, foram escoltados pelos
diretores e jogadores até a sede daquele distrito, até então nosso mais
terrível adversário. Ali, eram as cenas de confraternização, as lágrimas, os
abraços sem fim. O grande capitão da equipe e artilheiro do campeonato foi o
nosso saudoso Amaro Barbosa.
No período áureo da
existência do São José, muitos
trabalharam, lutaram e até se sacrificaram, na assistência e no apoio constante
ao grande time. Na presidência ou em outros cargos igualmente importantes, além
dos já citados, é de justiça ressaltar outros nomes como José Gonçalves da
Silva, Gilberto Batista Vieira, Volgran Silvano, Antônio Pires, Wilson
Campinho, Pedro Tavares, José Pinheiro Filho, o saudoso Paranhos, Carola e, no
ano de ouro, a figura ímpar de desportista e de cidadão, Norberto Siqueira
Barreto, o presidente da Vitória, símbolo da persistência, que encarnava o
espírito altaneiro, a polidez, o entusiasmo e a bravura da gente goitacá.[3]
[1] Sérgio nos
fornece ainda dados preciosos sobre os primeiros dirigentes do clube: “Foram fundadores do São José os Srs. Álvaro Barcelos
Coutinho, Adahyl Bastos Tavares, Cleveland Cardoso, Antônio Ribeiro do Rosário,
José Antônio de Carvalho, Aluísio Maciel, Zurlinden Cardoso, Manoel Martins
Manhães Júnior, Antônio Pereira Nunes, Sérgio Viana Barroso e Júlio e Raul
Souto Mayor, que, em muito, foram ajudados pelo Sr. Gonçalo Vasconcelos, um dos
sócios da Usina São José na época.
[...] O primeiro presidente
foi o Sr. Álvaro Barcelos Coutinho e de sua Diretoria fizeram parte os Srs.
Adahyl Bastos Tavares (vice), Antônio Ribeiro do Rosário e José Antônio de
Carvalho (1º e 2º secretários), Francisco Azevedo e Thieres Gomes de Azevedo
(1º e 2º tesoureiros), Aluísio Maciel (diretor de esportes), Antônio Pereira
Nunes (orador) e do Conselho Fiscal, Cleveland Cardoso, Capitão Aprígio
Barcelos, Sebastião Neto, Manoel Manhães Martins Júnior, Clóvis Barcelos
Coutinho, Raul Souto Mayor, Jovelino Nogueira, João Henrique Alves, Zurlinden
Cardoso, João Batista França,
Luís Nogueira, Francisco Claudino Filho, Jorge Andrade e Sérgio Viana Barroso.”
In: MELLO, Sérgio. “E.C. São José – Campos (RJ) e a sua História”. Disponível
em : http://cacellain.com.br/blog/?s=f%C3%A1brica&searchsubmit=
56/7. Acesso em: 20/03/2017.
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