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Leonardo  Santos
Professor de História



A economia açucareira não marcou a paisagem social da cidade de Campos dos Goytacazes (e a região por ela influenciada) apenas com sua produção e poder político que disso derivava, mas ela foi responsável também por engendrar importantes marcos e instituições do cenário futebolístico do lugar.
Além de ter sido muito importante para a sustentação dos dois principais clubes da cidade – Americano e Goytacaz, por período significativo de suas respectivas histórias, a economia açucareira, por meio de suas usinas e usineiros, também contribuiu para o surgimento de uma série de agremiações futebolísticas em Campos.





É certo que não foram poucos os times criados no Brasil oriundos de usinas açucareiras, temos os exemplos notáveis do União São João (São Paulo), União Barbarense (São Paulo), Central de Itaocara (Rio de Janeiro), Usina Ceará, Usina Catende (Pernambuco), Maravilhas (Pernambuco). 


Equipe juvenil do Industrial. Em destaque o garoto Didi, futuro "Príncipe Etíope", Mestre da Folha Seca e melhor jogador da Copa de 58 na Suécia....

Aristides Leo Pardo nota que o interesse de grandes empresários em patrocinar times de futebol não foi incomum no antigo estado do Rio de Janeiro: tivemos os casos do Bangu A.C., Santa Maria (Bom Jesus de Itabapoana), Madureira, Filó (Nova Friburgo), Central de Itaocara. E Aristides cita também:

A elite canavieira ajudou mais de 20 associações a nascer, inclusive algumas que chegariam à era profissional do futebol. Em Petrópolis, a indústria têxtil foi a grande impulsionadora; em Volta Redonda, o clube local teve apoio da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN); em Mendes, houve um time chamado Frigorífico, que girava em torno deste, e, finalmente, em Niterói foram diversos clubes oriundos de empresas industriais, com apoio maciço do patronato.1





Mas, sem dúvida, a cidade de Campos ofereceria o maior número de exemplos; ela acabaria condensando um enorme número de times. E serão esses a merecerem maior atenção de minha parte. Tratam-se de agremiações que mais do que o apoio dos donos de usinas, foram resultado do empenho dos seus trabalhadores em consolidar clubes e times, práticas associativas, que tinha o futebol como pano de fundo. 

Fonte: Sport Illustrado.

Aristides Leo Pardo lista todos os clubes que, pelo menos uma vez, jogaram no campeonato campista organizado pela Liga, ou por entidade correspondente: Internacional , Aliança Foot Ball Club, Americano, Goytacaz, Campos Atlético Associação, América , Rio Branco, Fla-Flu, Paladino, XV de Novembro , Luso Brasileiro, Aliança do Queimado, Atlético, Itatiaia, Sapucaia, Cambaíba, São José, São João, Paraíso de Tocos, Leopoldina , Industrial, Municipal, Futurista Futebol Clube, Vesúvio e Lacerda Sobrinho. Ou seja, dos 25 clubes que disputaram o campeonato campista de futebol, 6 deles eram de usinas, isto é, mais de 1/5 dos times. A proporção de times operários – para além dos de usinas – é maior se acrescentarmos as equipes do Industrial, Vesúvio [1]e do Municipal, composto por funcionários da Fábrica de Tecidos, do Corpo de Bombeiros e do Mercado Municipal, respectivamente.2 


O Industrial era formado por operários da Fábrica de Tecidos, do bairro da Lapa.
Fonte: Cancellain.


Fonte: http://cacellain.com.br/blog/wp-content/uploads/2012/01/Vesuvio-Campos-RJ.gif








Fonte: http://cacellain.com.br/blog/wp-content/uploads/2015/07/MFC-500x350.jpg


Leo Pardo lista uma série de outros times, menos notórios, mas também oriundos de usinas, formado tanto por funcionários como de moradores das localidades. São eles:
Pinheiro Machado (Santo Amaro), União e Aliança (Queimado), Ypiranga (Morro do Coco), Atlético (Goytacazes), Santo Antônio (Beco), Martins Laje (Martins Laje), Rio Preto (Morangaba), Palmeiras e Liberal (Cambaíba), Tamandaré (Santa Maria), Santa Cruz (Santa Cruz), Nacional (Saturnino Braga), Comercial (Conselheiro Josino), Ururaí e União de Ururaí (Ururaí), Cruzeiro (Poço Gordo), Estrela (Ponta da Cruz), Santo Eduardo, Esporte Clube Italva (do então distrito de Italva, que se emancipou de Campos em 1986) e Cardoso Moreira Futebol Clube (o distrito também obteve a sua emancipação político-administrativa em 1989).3

E acrescentaríamos a essa relação os times do Progresso e do Brasil, da Usina Sapucaia, que em 1938 seriam fundidos, surgindo então o EC Sapucaia.





1 Pardo, Aristide Leo. ”A Liga Campista e sua história”. Disponível em: http://futebolcampista.blogspot.com.br/2008/12/liga-campista-e-sua-histria.html. Acessado em: 2-/05/2017.

2 Sobre o Vesúvio, escreve Aristide Leo Pardo: “Formado dentro do quartel do Corpo de Bombeiros em 02 de dezembro de 1974, o Grêmio Recreativo Social e Esportivo Vesúvio foi fruto do sonho do Major Eduardo Ribeiro Filho e teve como Presidente de honra o Coronel da PM Yêdo Bittencourt da Silva, suas cores eram a mesma da corporação, o vermelho e o branco. O jornal “A Notícia” de 31 de dezembro de 1974 registrou a posse da diretoria do clube, que teve o comando do Major Eduardo e a vicepresidência
a cargo do médico Édson Coelho dos Santos, expresidente do Americano e do Municipal. No mesmo jornal, o Major declarou: “O Vesúvio chegou para revolucionar o futebol campista” Diferentemente dos times do Tiradentes (CE, DF, PI, PA e Niterói), que se originaram na Polícia Militar e mais recentemente do Dom Pedro II do Distrito Federal, este oriundo também do Corpo de Bombeiros, o Vesúvio abrigaria desde o início militares e civis. O primeiro jogo foi realizado na noite do dia 24 de janeiro de 1975 na
cidade vizinha de São João da Barra, na abertura do Torneio de Verão, onde venceu por 1 x 0 o time do Americano. Neste Torneio, o Vesúvio ficou com o vice-campeonato, perdendo a final para o time do Cambaíba, que levou o Troféu Coronel Evaristo Antônio Brandão Siqueira, então comandante da Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro. Quando o Major Ribeiro foi transferido para o Rio de Janeiro, houve
uma reunião em 12 de dezembro de 1975 e nesta ninguém se prontificou em assumir o comando do clube, que assim encerrou as suas atividades.


3 Pardo, Aristide Leo. Op. cit.


Comentários

  1. Eu adorei o q foi relatado aqui estao de parabéns. Nao podemos deixar q a historia de campos venha se perder.

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