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Leonardo  Santos
Professor de História


Paraíso Futebol Clube
Informa Leo Pardo que o Paraíso, pertencente à usina de mesmo nome, da localidade de Tocos, é um dos clubes de usina mais antigo de Campos, fundado em 17 de julho de 1917.1



O orgulho de Tocos







Dos clubes originados a partir de usinas, o Paraíso é considerado o mais antigo, “apesar de que o São João ter sido fundado 23 dias antes, mas não disputava campeonatos oficiais.”2

Foto do autor. 12/11/2014.




Sobre esse evento, conta-nos Paulo Ourives:
Nesse dia, já bem distante, houve uma reunião da qual participaram José Manhães, Miguel Rivaldi, Amaro Monteiro, Manoel Monteiro, Domingos Monteiro, Helvécio Peixoto e Ezequiel Manhães da Silva, que logo escolheram Miguel Rivaldi para presidente.3


Foto do autor. 12/11/2014.


O clube estrearia no campeonato da Liga Campista de Desportos em 1951. Em 17 de agosto de 1958 era inaugurado seu estádio, após o clube ter completado 41 anos, inicialmente denominado Roberto Codray, alterado posteriormente para Benedito Silveira Coutinho. Este era industrial e, segundo Paulo Ourives, Geraldo – junto com Osvaldo Gomes – foi “incansável na luta em favor do seu clube”.4

Fonte: http://cacellain.com.br/blog/wp-content/uploads/2017/02/0119-500x297.jpg



O jogo para celebrar a inauguração, contra o Goytacaz, foi um momento muito marcante para os trabalhadores da usina e suas famílias. A partida acabou sendo vencida pelo Paraíso. Além da vitória, Paulo Ourives aponta outros aspectos marcantes
Esse jogo, assistido por mais de mil pessoas, a maioria empregados da usina e suas mulheres e filhos, valeu pelo Campeonato Campista daquele ano, no qual o time local se apresentou com Paulo; Votinha e Carlinhos; Zequinha, Nilo e Cidoreco; Touquinho, Diniz, Osvaldo, Ênio e Basílio. O Goytacaz, derrotado, para enorme alegria da família toquense, que à noite promoveu festa desde a Casa Grande da usina até o lar mais humilde do lugar, se apresentou com Rodoval; Osvaldino e Pereira; Orioval, Rubinho e Sardinha; Roberto, Jarbas, Carlos Augusto e Jorginho.



Paulo Ourives nos oferece outros detalhes, em minúcias, sobre a estrutura que foi sendo montada para o Paraíso – nesse tocante, a ajuda dos proprietários da Usina foi fundamental:
Os mais antigos contam que, uma vez fundado o clube de Tócos, seus dirigentes procuraram a direção da usina para dar ciência da fundação do Paraíso e pedir ajuda, o que conseguiram com a doação de grande área, em cujo local foi construído o primeiro campo, mais tarde ocupado pelo Grupo Escolar Almirante Barroso. Anos depois, ainda em terrenos da usina, o Paraíso ganhou nova área, onde se encontra, no prolongamento da Avenida Guilherme Morisson, e em cuja praça de esportes, além do gramado de tamanho oficial e balizas em ferro redondo, existem o aramado e, em volta, para fazer sombra, enormes pés de eucaliptos. Do seu campo constam, ainda, vestiários azulejados para os dois times e para os juízes, bem como três túneis que ligam os mesmos vestiários ao gramado. As suas sociais agasalham também o dormitório para os jogadores, cabines para rádios e uma pequena tribuna, onde, em dias de grandes jogos e em cadeiras de palhinha, a cúpula da usina se senta para festejar as vitórias do time local.5

No jogo inaugural o clube enfrentou o Goytacaz, vencendo-o por 1 x 0, “em um jogo visto por mais de mil pessoas (a maioria parentes de jogadores e funcionários da usina)”. Teria ocorrido após a partida uma grande festa da “família toquense”, que teria animado desde a sede da usina até a residência mais humilde.



 
Vestiários do estádio do Paraíso. Os árbitros também tinham o seu...
 
 
Depois da bola, a churrasqueira era elemento fundamental do futebol operário e da sua sociabilidade.
Foto do autor. 12/11/2014.
  


O clube foi vice-campeão citadino em duas ocasiões, 1958 e 1976. E conquistou em 1975 o torneio Otávio Pinto Guimarães.6 Com base na reportagem sobre o jogo publicado no Jornal dos Sports do dia 15 de novembro de 1975, Ourives nos conta como foi esse triunfo:
o Paraíso havia derrotado o Goytacaz por 2 a 1, no Estádio Godofredo Cruz, e com isso conquistado o título do Torneio Otávio Pinto Guimarães. Da matéria constavam, ainda, a renda de Cr$ 12.000,00, o nome do juiz, Nicodemus Vidal e a ordem dos gols: Macedo fez 1 a 0, Aílson marcou o segundo e Tuquinha, já no segundo tempo, para o Goytacaz. O jogo foi cheio de catimba e contou com as expulsões de Pontixeli, Paulo Marcos e Zair. Para completar, o jornal carioca apresentou as equipes, com o Paraíso contando com Joelson; Robson, Joézio, Niniu e Clóvis (Carlos Alberto); Carlinhos, Valmir (Balula) e Aílson; Silvinho, Jorginho e Macedo, e o Goytacaz com Juvenal; Nad (Wílson), Paulo Marcos, Beraldi e Júlio César; Ricardo Batata, Pontixeli e Naldo; Zair, Tuquinha e Piscina (Jocimar).
Desse torneio também participaram Rio Branco e Cambaíba e a decisão se deu em dois jogos extras, o primeiro dos quais terminou igual em 0 a 0.7




Fonte: http://historiasqueabolaesqueceu.blogspot.com.br/2014/07/futebol-campista-e-os-clubes-que-bola.html


















No ano seguinte o clube conquistaria o Torneio Roberto D'Affonseca Monteiro. A final se deu no dia 28 de fevereiro de 1976 e baseando-se no mesmo jornal, Ourives nos relata: 
reagindo nos últimos instantes do jogo bastante corrido, o Paraíso, que perdia de 1 a 0 para o Rio Branco, acabou vencendo-o por 2 a 1[...]. Arroz, aos 12 minutos para o róseo-negro; Balula, aos 42 e Robson, aos 46 minutos, todos no segundo tempo, foram os autores dos gols. Contra Zenílton Costa dos Santos, o juiz, os riobranquenses reclamaram a não marcação de um pênalti quando o placar era de 1 a 0. A rodada final do torneio, que reuniu esses dois clubes mais o Campos e o Sapucaia, foi disputada anteontem à noite, no Estádio Ângelo de Carvalho. No primeiro jogo da noite, o Campos derrotou o Sapucaia por 2 a 0, gols de Zé Neto e Zé Antônio. O Paraíso, campeão, jogou com Joelson; Robson, Niniu, Joésio e Clóvis (Carlos Alberto); Carlinhos (Balula), Valmir e Aílson (Bangazal); Silvinho, Jorginho e Macedo, e o Rio Branco com Oliveira; Carlinhos, Índio, Edalmo e Abud; Divaldo, Armando e Joelson; Arroz, Jorginho e Pedro.8



O Paraíso teve um destino semelhante ao do Cambaíba, retirando-se dos campeonatos profissionais na década de 80, mas seguindo disputando certames amadores da cidade.


Fonte: Revista Placar.

O seu campo recebe até os dias de hoje jogos dos campeonatos amadores de Campos, e praticamente todo domingo é dia de futebol em Tocos.




Partida de 2015 do Campeonato Amador. Fonte:
http://novosite.ururau.com.br/esportes/9cfac56826e022e67c4b5951338101c427830f70_lcd_mantem_futebol_amador_vivo_com_campeonato_campista

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