Debora Paes
Graduanda do Curso de História da UFF/Campos
Percurso político de Salvador Allende
Allende nasceu na
cidade de Valparaíso no Chile em 26 de junho de 1908, já discutia sobre política
aos 15 anos com grande desenvoltura, foi pupilo do anarquista italiano Juan Demarchi. Estudou
medicina na Universidad do Chile, em 1927, foi eleito presidente do Centro de
Alunos. Foi um dos fundadores do Partido Socialista Chileno em 1933, no qual
participou até 1946. Em 1937, foi eleito deputado, após dois anos, nomeado
ministro da Saúde, função que exerceu até 1942. No ano seguinte, assumiu a
direção do partido e por ele foi eleito senador em 1945, ocupando o cargo por
25 anos.[1]
O
Parlamento chileno nesta época estava formado pelo partido Democrata Cristão com base popular no proletariado da grande,
média e pequena indústria, dos pequenos e médios proprietários rurais e a alta
classe média urbana. Participava junto
aos democratas a Unidade Popular, uma coalizão
partidária de esquerda formada para a
eleição presidencial de 1970, liderada por Allende, que representava o
proletariado, e que tinha como membros os operários menos favorecidos, o
proletariado agrícola, junto com a classe média e baixa urbana. Os democratas
cristãos estavam aliados ao Partido Nacional de extrema direita e controlava o
Congresso chileno, enquanto que a Unidade popular de Allende controlava o Poder
Executivo.
As negociações no Parlamento para a
aprovação do nome de Allende a presidência foram tensas, já que a constituição
chilena previa a necessidade de “maioria dupla” (ele teria que ser indicado
pelo voto popular e pelo voto do congresso). Logo após a morte do Comandante
das Forças Armadas chilenas, o general constitucionalista René Schenaider, por
elementos ligados à Pátria Y Libertad que era na época uma organização política nacionalista e autoritária,
paramilitar e terrorista com orientação política
neofacista.[2] O
nome de Allende foi confirmado pelo Congresso chileno.
Allende tentou ser
eleito presidente do Chile por três vezes: em 1952, em 1958 e 1964. Só
conseguindo eleger-se em 1970, através de uma coligação de esquerda, a Unidade Popular. Entrando
para a história da política mundial como o primeiro marxista a chegar ao poder através
das urnas. Chegando à presidência com uma vitória apertada totalizando
36,2% dos votos. Seguido pelo segundo candidato Jorge Alessandri, que era o
candidato de direita que obteve nas urnas 27,8% dos votos e em terceiro lugar
ficou o candidato Radomiro Tomic, que tinha plataforma parecida com a de
Allende, com propostas de transformar o Chile em regime socialista, por vias
pacíficas e democráticas, onde seria assegurada a liberdade de imprensa, o
respeito à Constituição, a reforma agrária e a nacionalização dos recursos
minerais, principalmente o cobre.[3]
Nesta
época o Chile dependia economicamente de investimentos externos e das grandes
multinacionais. Havia muitas
desigualdades sociais, o que levava uma parte da sociedade a viver em condições
precárias. Ao assumir a presidência no dia 3 de
novembro de 1970, Allende já nutria o sentimento de reconstruir o país através
do "caminho chileno para o socialismo". Durante seu governo
nacionalizou as minas de cobre, que era a principal riqueza do país e as minas
de carvão, os serviços de telefonia e aumentou a intervenção do Estado nos
bancos. Fez reforma agrária, desapropriando grandes extensões de terras
improdutivas e entregando-as aos camponeses.
Allende por causa de suas ideias anticapitalistas
acabou enfrentando várias dificuldades em seu governo.
Provocou a ira da oposição e do governo norte-americano, que uniram suas forças
para prejudicar a política chilena. Em 4 de setembro de 1972, denunciou nas Nações Unidas, as tentativas norte-americanas
de desestabilizar o Chile, sendo que esta denuncia não foi levada adiante pelo
órgão. Em 1973, a crise econômica se agravou, a inflação atingiu
patamares elevados, chegando á 300%, fazendo com que o PIB tivesse queda
vertiginosa, os investimentos privados do Chile
caíram, o desemprego aumentou sensivelmente. Causando rejeição e revolta da
população, que passou a protestar em manifestações turbulentas, com grandes
paralisações dos transportes e do comércio. Houve inúmeros atentados provocando
apagões e danificando pontes e oleodutos. Apesar das graves dificuldades
econômicas que passava o país neste ano, a Unidade Popular conseguiu obter 43%
dos votos nas eleições. Em junho desse mesmo ano, ocorreu uma frustrada
tentativa de golpe de Estado.[4]
O Golpe Militar de 1973
No dia11 de
setembro, o governo de Allende foi derrubado pelo exército, liderado pelo então
general, Augusto Pinochet. Durante
o Golpe, o Palácio de La Moneda (sede do governo) foi bombardeado pelo
exército. As ruas já haviam sido tomadas pelas forças militares e carabineiros (policia
militarizada), que tentavam neutralizar as últimas resistências pró Allende.
“Decidido a não
entregar o poder, ele teria se suicidado na sala da presidência, com um tiro na
cabeça de fuzil automático AK-47, presente do amigo cubano Fidel
Castro. Há quem sustente que ele
foi morto pelos militares. De qualquer modo, naquele dia, aos 65 anos, Allende
tornou-se uma das primeiras vítimas da ditadura militar chilena, que duraram 17
anos e deixou pelo menos três mil mortos ou desaparecidos”. [5]
A visão da imprensa brasileira sobre
o “Golpe Militar no Chile em 1973”
Folha de São Paulo
Dia 12 de setembro
de 1973, a Folha de São Paulo um dia após o golpe militar no Chile, anuncia a
manchete com letras garrafás “ALLENDE DEPOSTO SUICIDA-SE” [6].
O repórter Francisco Barreira inicia a reportagem com um detalhamento minucioso
sobre o golpe militar no Chile. Informa que no dia 11 de setembro de 1973, o
presidente Salvador Allende fora deposto pelas Forças Armadas chilenas e
sitiado no Palácio La Moneda, sob intenso bombardeio, recusando-se a entregar,
acabou se suicidando com um tiro na cabeça. Na mesma noite a Junta Militar
assume o poder e o controle total do país, decretando estado de sítio, tomou o
controle das emissoras, jornais e telefonia, fechou suas fronteiras, deixando o
Chile isolado do mundo. A versão do suicídio só foi confirmada à noite, pelo
inspetor da Policia Civil, René Carrasco, neste pronunciamento anuncia que o jornalista
Augusto Olivares, um dos assessores de Allende também se suicidou.
Dia 13 de setembro
de 1973, anuncia uma nova manchete sobre o golpe, desta vez com o título de:
“LUTA-SE NO CHILE; MIL MORTES”, [7]O
enviado especial Francisco Barreira relata os fatos ocorridos desde inicio do
golpe militar no Chile, ocorrido no dia 11. Inicia a reportagem referindo se ao
saldo de mortos, que passava dos mil, fora as centenas de feridos, a maioria
pertencia à resistência civil ao golpe militar que derrubou o governo de Allende que o Chile estava em completo
isolamento, sem rádio, telefone, sem comunicação, pois tudo havia haviam sido
destruídos ou tomados pelas Forças Armadas. O jornalista relata a extrema
violência que as forças armadas estavam utilizando para tentar manter a ordem. Havia
relatos de fuzilamentos sumários e adiamento da abertura de fronteiras e da
normalização das telecomunicações.
Havia rumores de que as Forças Armadas estavam
com dificuldades em controlar as províncias ao extremo Sul do país, que eram
habitadas por camponeses índios mapuches de larga tradição de rebeldia, onde o
MIR (Movimento de Esquerda Revolucionária) concentrara durante o governo de
Allende suas principais bases guerrilheiras. Havia especulações sobre países
vizinhos tal como a Argentina que segundo informações: os partidos políticos,
principalmente a Democracia Cristã de violência que assolava o Chile. É ressaltado
outro subtítulo nesta página “Triste e dolorosa missão” Das agencias AP e AFP,
informa que os três membros da Junta Militar que destituiu Allende, fizeram um
curto pronunciamento a um programa de TV, transmitido para todo o Chile, junto
com o Chefe do Exército General Augusto Pinochet, no qual informavam que: “Não
pudemos fugir desta triste e dolorosa missão, pois foi preciso que tomassem a
responsabilidade, depois de três anos de câncer marxista que tinha conduzido o
país a uma ruptura moral e social, que os interesses da pátria não podiam
suportar mais tempo. Estamos certos de que todos os chilenos compreenderão e
lutarão conosco para que a estrela do Chile volte a brilhar”. A TV também
anunciou que um grupo de oficiais mostrou ao povo chileno um verdadeiro arsenal
de armas que Allende mantinha no palácio e em casa. A TV mostrou ainda a
cozinha da residência do ex-chefe de Estado onde se viam grandes quantidades de
alimentos armazenados e bebidas finas, “num momento”, em que o país atravessa
enorme escassez de gênero.
Diário de Notícias
O jornal Diário de
Notícias do dia 12 de setembro de 1973, um dia após o golpe a manchete
principal foi a morte de Allende: “Allende matou-se. Junta Militar já assumiu o
poder no Chile”.[8] A
matéria relata que estava faltando radiofotos, pois as instalações fotográficas
do escritório da agência de notícias UPI, em Santiago, foram destruídas durante
o tiroteio registrados na tarde de ontem na cidade. O toque de recolher,
imposto pelos militares que tomaram o poder, impediu que os fotógrafos
documentassem o golpe. Augusto Pinochet se tornou o homem forte da Junta
Militar que governava o Chile, juntamente com o General Gustavo Leigh da
Aeronáutica, o vice Almirante José Toríbio Medina e Cezár Mendoza, chefe dos
carabineiros.
O jornal anuncia em
um subtítulo o “Suicídio no Palácio, antes da queda” e as últimas palavras de
Allende: “Só morto me tirarão de La Moneda”. Relata que realmente o presidente
cumpriu a promessa feita pela manhã, se suicidando. Um oficial do Exército e um
jornalista do El Mercúrio - afirmava tê-lo visto caído num sofá. Segundo estas
fontes, Allende teria se suicidado para não se entregar as forças que
bombardearam o Palácio de La Moneda pouco antes do meio dia, e que o presidente
teria se matado entre 13h30min e 14 horas (hora oficial do Chile), antes da
ocupação. Outro subtítulo era sobre as primeiras ações do novo governo
“Decretado sítio e toque de recolher”. Informa que o governo usará força se os
operários não se retirarem das fábricas; que todas as contas bancárias foram
bloqueadas e que os meios de comunicações ficarão sobre rígida censura (em caso
de desrespeito, “suas instalações serão inutilizadas”). O jornal mostra que o
povo reagiu de formas diversas: enquanto grupos esboçavam uma resistência
armada nas ruas, outros saqueavam a casa de Allende, que já havia sido
bombardeada. E por último o subtítulo anunciado pelo jornal foi: “Os caminhos
do Chile sem o “jugo marxista”. Inicia a matéria dizendo que Santiago acorda
hoje aparentemente sob o controle da Junta Militar formada pelos
comandantes-chefes do Exército, Marinha e Aeronáutica que prometera restaurar a
economia e “livrar o país do jugo marxista”.
Revista Veja
A revista Veja
datada de 19 de setembro de 1973, uma semana após o Golpe Militar no Chile, apresenta
uma reportagem da enviada especial Dorrit Harazin intitulada: “VIOLÊNCIA E
GOLPE EM SANTIAGO” Como a sangrenta subida ao poder dos militares chilenos
liquidou Allende e o seu socialismo. A matéria inicia fazendo menção a divisa do
Emblema Nacional do Chile “Pela razão ou pela força” e o Hino Nacional, que diz:
”Como é claro e azul o teu céu”. Relata que finalmente após três anos de
inviabilidade política, e 45 dias de paralisação econômica e exaustão de todas
as combinações partidárias que ainda seria possível imaginarem que os símbolos
do país conduziram ao golpe. Com esta alusão a reportagem continua a relatar
que foi pela força que o Chile foi tomado, continua dizendo, que foi com uma “severidade
inédita na história recente da América Latina”. Outra matéria relata: “Pouco
depois ele estava morto, a sua “experiência socialista” no Chile sepultada, e o
continente em estado de choque, assistiam ao que foi provavelmente seu golpe
militar mais violento desde a derrubada de Perón na Argentina, dezoito anos atrás”.[9]
A visão da imprensa portuguesa sobre
o “Golpe Militar no Chile em 1973”
Diário de Lisboa
Já em Portugal o
jornal Diário de Lisboa estampava em sua primeira página no dia 12 de setembro
de 1973 a seguinte manchete: “O golpe no Chile – versões contraditórias da
morte de Allende”. [10] A matéria levanta algumas dúvidas a respeito
da morte de Allende, dizendo serem contraditórias as versões. Alguns
jornalistas que foram autorizados a entrar nos escombros do Palácio
presidencial, afirmam que o presidente jazia sobre sua secretária com um tiro
na boca.
Outras fontes, porém
dizem que Allende foi vitimado com um tiro na cabeça e que do outro lado do
presidente jazia o cadáver do seu amigo e secretário para imprensa Augusto
Olivares. Por toda cidade de Santiago do Chile a resistência ao golpe parece
ter sido esmagada em cerca de 6 horas, terminando assim, a experiência chilena
de evolução pacífica para o socialismo iniciada há três anos com a eleição de
Salvador Allende para a presidência da República. Na página 12 do mesmo jornal,
estampa o seguinte título, A morte de Allende: ”fim de uma experiência”, relata
que os militares amotinados contra o Governo Legal disparam à vontade contra
vários edifícios no centro da cidade para desalojarem atiradores civis que dos
telhados tentavam defender as ruas de acesso ao palácio presidencial.
Apesar da Junta Militar dizer que o país
estava calmo e a situação controlada, havia ameaças prevenindo que qualquer
resistência seria esmagada pelas Forças
Armadas. A imprensa portuguesa informa que a Junta Militar chilena aplicou
rigorosa censura à imprensa permitindo apenas futuramente a publicação de dois
jornais, os outros foram avisados que se tentassem publicar os seus números
seriam destruídos, e anuncia também a suspensão do Congresso e que seriam
cortadas as relações diplomáticas com Cuba, que haviam sido restabelecidas por
Allende em 1970.
Bibliografia:
- PEDAGOGIA & COMUNICAÇÃO. “PRESIDENTE DO
CHILE DE 1970 A 1973”. Salvador
Allende: disponível em: “http://educacao.uol.com.br/biografias/salvador-allende.htm”. Acesso em: 12/03/2016.
- “Patria y Libertad”: disponível em: ”https://pt.wikipedia.org/wiki/Patria_y_Libertad”.
Acesso em: 12/03/2016
- “Golpe de Estado no Chile em
1973”. https://pt.wikipedia.org/wiki/Golpe_de_Estado_no_Chile_em_1973. Acesso em:
12/03/2016.
- BARRREIRA, Francisco. “ALLENDE DEPOSTO
SUICIDA-SE”. In: Folha de São Paulo. São Paulo, 12/09/1973, Primeiro
Caderno, pagina 1.
-
“Allende matou-se. Junta Militar já assumiu o poder no Chile”. In: Diário de
Notícias. Rio de Janeiro, 12/09/1973, pagina 1.
- HARAZIN, Dorrit.
“VIOLÊNCIA E GOLPE EM SANTIAGO” Como a sangrenta subida ao poder dos militares
chilenos liquidou Allende e o seu socialismo.
Disponível em: “http://veja.abril.com.br/acervo/home.aspx”.
Acesso em: 12/03/2016.
-“O golpe no Chile –
versões contraditórias da morte de Allen de”. In: Diário de Lisboa.
Lisboa, 12/09/1973, pagina 1.
[1] PEDAGOGIA & COMUNICAÇÃO. “PRESIDENTE DO CHILE DE 1970 A 1973”. Salvador
Allende: disponível em: “http://educacao.uol.com.br/biografias/salvador-allende.htm”.
Acesso em: 12/03/2016.
[2] “Patria y Libertad”: disponível em: ”https://pt.wikipedia.org/wiki/Patria_y_Libertad”. Acesso em:
12/03/2016.
[3] “Golpe de Estado
no Chile em 1973”. https://pt.wikipedia.org/wiki/Golpe_de_Estado_no_Chile_em_1973. Acesso em:
12/03/2016.
[4]
PEDAGOGIA & COMUNICAÇÃO. “PRESIDENTE DO CHILE DE 1970 A 1973”. Salvador
Allende: disponível em: “http://educacao.uol.com.br/biografias/salvador-allende.htm”.
Acesso em: 12/03/2016.
[5]PEDAGOGIA & COMUNICAÇÃO. “PRESIDENTE DO CHILE DE 1970 A 1973”. Salvador Allende: disponível em:“ http://educacao.uol.com.br/biografias/salvador-allende.htm”.
Acesso em: 12/03/2016.
[6] BARRREIRA, Francisco. “ALLENDE DEPOSTO
SUICIDA-SE”. In: Folha de São Paulo. São Paulo, 12/09/1973, Primeiro
Caderno, pagina 1.
[7] BARRREIRA, Francisco. Enviado
especial. “ALLENDE DEPOSTO SUICIDA-SE”. In: Folha de São Paulo. São
Paulo, 13/09/1973, Primeiro Caderno, pagina 1.
[8] “Allende matou-se. Junta Militar
já assumiu o poder no Chile”. In: Diário de Notícias. Rio de Janeiro,
12/09/1973, pagina 1.
[9]
HARAZIN, Dorrit. “VIOLÊNCIA E GOLPE EM
SANTIAGO” Como a sangrenta subida ao poder dos militares chilenos liquidou
Allende e o seu socialismo. Disponível
em: “http://veja.abril.com.br/acervo/home.aspx”.
Acesso em: 12/03/2016.
[10] “O golpe no Chile – versões
contraditórias da morte de Allen de”. In: Diário de Lisboa. Lisboa, 12/09/1973,
pagina 1.
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