A produção “O bom Burguês” é um filme de Oswaldo Caldeira, lançado em 1983, desenvolvido em um cenário de repressão, o que faz Oswaldo se justificar pela neutralidade do filme e a sua preferência pela produção de filmes em que o personagem fictício possa dialogar de forma rica com a figura verdadeira em que ele se inspira, mas abrindo espaço para uma narrativa que trabalhe com o imaginário e o senso crítico do público. Baseado na história de Jorge Medeiros Valle, funcionário do Banco do Brasil no Bairro do Leblon, Rio de Janeiro. No filme ele se chama Lucas que é interpretado pelo ator José Wilker e apoia financeiramente organizações revolucionárias distintas na luta contra a ditadura Militar; MR-8 (Movimento Revolucionário oito de outubro), O PCBR (Partido Comunista Brasileiro Revolucionário) e a FLN (Frente de Libertação Nacional) favoráveis à luta armada como afirma Valesca Almeida em sua dissertação de mestrado chamado “O Bom Burguês – A trajetória de Jorge Medeiros Valle sob a ditadura brasileira”, que utilizarei para mediar algumas comparações e debates entre o filme e a pesquisa histórica.
No início do filme Lucas se encontra com os líderes partidários da esquerda do Partido Comunista que não estão favoráveis a luta armada e fala sobre a proposta de financia-los através de desvios de transações que ele fazia no banco, e assim dar sua contribuição na luta contra a ditadura militar mesmo sabendo do posicionamento estratégico que divergia das demais organizações que prezavam e viam a luta armada como a forma mais efetiva de combate à ditadura. Lucas argumentava que essa divisão estratégica naquele momento não era justificável.
Com o passar do filme Lucas vai se aproximando do partido e mesmo que não deixe claro ele é filiado ao Partido Comunista segundo Valesca Almeida, partido que ele financia. Nesse aprofundamento na luta contra a ditadura ele se propõe a entrar no círculo de empresários que contrário a ele patrocinavam os aparelhos repressivos da ditadura. Ao se infiltrar nesse meio empresarial, onde estavam os beneficiados que fizeram riqueza a partir do milagre econômico brasileiro durante a ditadura no ano de 1970, por conta dos investimentos e especulações que faziam na bolsa de valores do Rio de Janeiro, seu intuito era se aproximar de Thomas que tem negócios que lhe interessam por conta do seu teor de importância para servir a luta armada e a revolução e para isso usou seu nome de combate, Jonas.
Com cerca de 2 milhões de dólares, na cotação da época, desviados do Banco do Brasil. Jonas como era chamado pelo seu camarada Comandante Raul tinha planos de construir um Hospital que pudesse ser o local de atendimento para os combatentes feridos em conflito com os braços da ditadura, além de ter outros projetos.
Nesse meio tempo em que está agindo para ajudar os partidos, Lucas descobre que sua irmã Joana está fazendo parte da luta armada e a mesma não tem ciência da sua atuação, mas tem suas interpretações da vida burguesa que ele leva e não faz ideia do papel que ele tem na luta contra a ditadura.
É interessante destacar que mesmo com a construção de uma história romantizada, o filme nos remete aos debates que são gerados na historiografia sobre a ditadura, onde pode-se observar o papel preponderante do setor empresarial no financiamento dos meios para captura e tortura dos presos políticos, mas o empresário que aparece no filme não faz suas doações no nome da empresa de que é dono, isso enriquece e incentiva mais ainda a discussão sobre qual o termo mais adequado para aquele momento, ditadura empresarial militar ou ditadura civil militar? Esse debate é feito por professores e pesquisadores da área como Daniel Aarão Reis e Demian Bezerra de Melo e por demais pesquisadores que se debruçam sobre tal assunto.
Mas tudo pode acontecer após o sequestro de um embaixador suíço, que é o meio usado para a libertação de 70 presos políticos. O grupo é descoberto e seu líder, morto. Agora a identidade de Jonas está por vir à tona, pelo o fato de sua irmã joana ter sido capturada e presa, o que levou o comando especializado a armar uma emboscada para Lucas, que ao ser visto pela irmã se sente surpreso, o que leva ela se jogar na frente de um ônibus na esperança de salvar seu irmão das mãos da tortura. Mas ele foi visto e capturado posteriormente. Sua esposa e camarada Neuza negocia sua liberdade com Valadares que também é empresário e tem ligação direta com os militares e Lucas é solto e se exila no México com sua família.
Bibliografia: ALMEIDA, Valesca de Souza. “O Bom Burguês: a trajetória de Jorge Medeiros Valle sob a ditadura brasileira”, Rio de Janeiro, 2015.
Bibliografia: ALMEIDA, Valesca de Souza. “O Bom Burguês: a trajetória de Jorge Medeiros Valle sob a ditadura brasileira”, Rio de Janeiro, 2015.
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